Pimpão
era um gato malhado, de olhos amarelos, um pouco gordinho, que vivia na casa de
Dona Jussara, na beira do Rio Amazonas. Tinha uma vida boa: brincava assustando
as galinhas, ganhava cafuné das crianças e ganhava pãozinho com os restos de
peixe da família.
Mas
de todas as coisas, o que mais gostava de fazer era se esticar na janela
ouvindo rádio. Estava por dentro das notícias e das piadas e, enquanto se
lambia, ensaiava abanar o rabo ao som da música animada.
Quando
os outros gatos passaram pela janela, disseram logo:
-
Miaaauuuu, pimpão, o gato bobão, não caça e só quer pão!
Pimpão
ficou triste por ouvir aquilo.
-
Miauuuuu preciso mudar, é hoje que aprendo a caçar!
Ele
até pegou uns pintinhos, uns insetos... mas na hora de comer... aahhhhrrrrr,
não conseguia! Pimpão só queria o peixe quentinho da Dona Jussara. E aí ficou
triste, cabisbaixo, o dia todo num canto da sala, até sua dona o encontrar.
-
Que foi Pimpão? O que você tem? Ah, vem cá amigão, sei o que vai te fazer bem!
E
Jussara deitou na rede da varanda, de frente para o rio. Com o gato em sua
barriga, alisava o bichano com todo o carinho. E ria ouvindo a rádio,
conversava com os locutores, fechava os olhos ao som das músicas românticas...
E os
bigodes do Pimpão viravam para cima, tamanho o sorriso em seu rosto:
-
Que alegria, não existe coisa melhor nessa vida.
E os
gatos vizinhos, a espiar o gatinho Pimpão ouvindo rádio:
-
Miaaauuuuuuu, esse Pimpão não é de nada, ahahahaha, ele se acha bonito, ouvindo
essa caixinha de barulho esquisito, miaaauuuuahahaha.
Pimpão
escutou as risadas e viu os gatos irem embora. Junto com eles, estava Tica,
gatinha de olhos amendoados, a dona do seu coração. Era nela que ele pensava
quando ouvia Roberto Carlos.
- Ai
que vergonha! Nunca mais escuto rádio! Vou deixar de ser pamonha!
Deu
um pulo da rede que até assustou sua dona! Mas a prosa da locutora estava boa e
Dona Jussara continuou na rede ouvindo seu programa favorito.
Pimpão
disparou floresta adentro, decidido a levar uma grande caça para sua amada. E
correu, correu, correu, e nada... Tentou passarinho, besouro, rato do mato...
estava fora de forma, o gato cansado.
Foi
aí que ele avistou um clarão no meio do mato. Uma casinha de madeira de onde
saía um cheirinho de café e um chiado. O gato se aproximou e, cauteloso,
deitou-se no chão, ao lado da janela de onde vinha o barulho do rádio. Queria
escutar música pela última vez, mas ouviu uma coisa de arrepiar os bigodes. A voz
no rádio alertava sobre o rompimento de uma barreira.
-
Preciso avisar a todos! Os gatos da vila! Dona Jussara! Minha amada Tica!!
E
Pimpão correu como nunca! Ao chegar, encontrou Dona Jussara que, sempre bem
informada, já saia de casa com as crianças o cachorro e as galinhas.
-
Pimpão, por onde você andou meu filho? Vai haver uma enchente! Precisamos subir
o morro!!!
Mas
Pimpão pensou nos outros gatos. Continuou correndo e quando encontrou os
felinos, quase nenhum acreditou no que dizia. Apenas a Tica, que disse:
-
Deixem de chateação, eu confio nesse gato Pimpão.
Ouvindo
isso, os gatos mudaram de ideia e correram pelas ruas do vilarejo, juntos, o
que chamou a atenção das pessoas e dos outros animais. Afinal, quando tem bicho
fugindo, não vem boa coisa. E do que é que um gato menos gosta? Água!!!
E o
povo da vila seguiu os bichanos até o alto do morro e de lá puderam ver a força
da água destruindo tudo.
Pimpão
olhou com tristeza para sua dona, que disse:
-
Não fique triste Pimpão, o importante é que estamos vivos. Você é um gato muito
especial. E olha só, no meio da correria, consegui salvar isso aqui!
-
Miaaaauuuuu!
Pimpão
deu um grito de alegria ao ver o velho radinho de pilhas!
E
foi assim que de gato folgado, Pimpão passou a ser conhecido em toda a
redondeza como o gato bem informado!
(Juliana Maya)
Gostei bastante da história
ResponderExcluirque história mais fofa! ressalta a importância da informação além de outros valores, como a preocupação com os demais.
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