Era uma vez…
Um homem e uma mulher que viviam junto à horta de uma
bruxa, cheia de bonitas plantas e hortaliças.
Um dia, a mulher, que estava grávida, teve um desejo
atroz de comer rapôncios!
- Vai à horta aqui ao lado e traz-me um bom molho
deles!
O marido, que gostava muito da sua mulher, obedeceu
de imediato. Saltou o muro que separava a sua casa da horta da bruxa e, quando
estava a apanhar os rapôncios, apareceu a velha aos gritos:
- Como te atreves a entrar na minha horta e roubar-me
os rapôncios? Vais-te arrepender! – exclamou.
- Tenha piedade! Respondeu o homem.
A minha mulher está à espera de um bebé e teve um
desejo de comer rapôncios…
- Assim sendo – interrompeu a bruxa – podes levar
todos os rapôncios que quiseres, mas com uma condição. Quando nascer essa
criança entregas-ma para eu cuidar dela!
Cheio de medo, o homem aceitou. Alguns meses mais
tarde, quando a mulher deu à luz uma bonita menina, a quem chamaram Rapunzel, o
casal, com muita tristeza, entregou-a à bruxa. A menina cresceu bonita e
saudável, com uns longos cabelos, reluzentes como o ouro. Ao completar doze
anos, a sua raptora fechou-a numa torre muito alta que não tinha porta nem
escadas para chegar até ela.
A pobre menina, como não tinha mais nada para fazer,
passava o tempo a tocar com a sua harpa uma triste melodia.
Alguns anos depois, passou por ali por acaso um jovem
príncipe que, atraído pela bonita música de Rapunzel, resolveu parar. Quis
entrar na torre, mas não encontrou nenhuma porta e regressou ao palácio.
Mas a curiosidade do príncipe por essa misteriosa
melodia era tão forte, que todos os dias ia ao pé da torre para a ouvir.
Um dia, ao chegar à torre, ouviu a bruxa que gritava:
– Rapunzel, deixa cair os teus cabelos!
Depois, a jovem fez deslizar as suas suaves tranças
pela janela e a bruxa trepou por elas. «Se é assim que se chega ao cimo da
torre, amanhã volto cá e faço o mesmo!», pensou o príncipe. No dia seguinte,
antes de anoitecer, o jovem regressou à torre e, imitanto a voz da bruxa,
gritou:
- Rapunzel, deixa cair as tuas tranças!
De imediato, deslizaram as tranças de ouro da
rapariga e o príncipe trepou por elas.
No início, a jovem assustou-se com a presença do
príncipe porque, além da velha bruxa, nunca tinha visto mais nenhuma pessoa.
Mas aos poucos Rapunzel foi perdendo o medo quando o jovem lhe contou que
estava ali porque a sua música o tinha impressionado tanto como o impressionava
agora a sua beleza.
O príncipe, comovido com a tristeza e solidão em que Rapunzel vivia,
convidou-a para abandonar a torre e ir embora com ele. Finalmente ia acabar com
a sua clausura para sempre!
Mas, como sairiam dali? A jovem não podia utilizar os
seus próprios cabelos para descer da torre.
Na visita seguinte, o príncipe levou-lhe uma porção
de fitas de seda, para com elas tecer uma escada e assim poder deslizar para o
chão.
Depois fugiram juntos, a galope, até ao castelo do
príncipe. Mas a velha bruxa estava a ver tudo através da sua bola de cristal.
- Ah, sua mal agradecida! Vais pagar por isto! –
exclamou enraivecida.
Na manhã seguinte, a bruxa dirigiu-se à torre
furiosa. Num ataque de raiva, agarrou os cabelos de Rapunzel e cortou-lhe as suas
bonitas tranças com uma tesoura. Depois obrigou-a a acabar a escada de seda que
estava a fazer e levou-a para uma gruta escondida na floresta. A bruxa malvada
deixou ali a infeliz jovem e regressou à torre, disposta a vingar-se do
príncipe. Subiu pela escada de seda; depois retirou-a e, no seu lugar, colocou
as tranças que tinha cortado a Rapunzel. O príncipe não tardou a chegar e, sem
perder tempo, começou a trepar por elas.
Quando chegou ao cimo da torre, o príncipe, em vez de
encontrar a sua amada, deu de caras com a bruxa, que o olhou com olhos de quem
se queria vingar.
- Ah ah! Querias fugir com a minha menina, mas ela
não está aqui! – disse-lhe.
- Nunca mais a vais voltar a ver!
Foi tal a surpresa do príncipe que perdeu o
equilíbrio e foi cair em cima de uns espinhos que se espetaram nos seus olhos,
deixando-o cego.
Enquanto o príncipe tentava pôr-se de pé e andar, a
bruxa regressou a sua casa muito contente, pensando que o jovem tinha morrido
na queda. E como tinha outra vez a rapariga em seu poder, deu-se por satisfeita
com a sua vingança. «Voltou tudo ao normal!», pensava.
Desde então, o príncipe vagueou de um lado para o
outro, sem rumo, chorando a perda da sua amada Rapunzel. Um dia, por acaso,
chegou perto da gruta onde a jovem estava prisioneira. O príncipe ouviu sair lá
de dentro a bonita melodia de que tanto gostava. Pegou numa grande pedra e
atirou-a com toda a força contra a grade que impedia a entrada. Depois de entrar,
Rapunzel reconheceu-o e correu feliz para os seus braços.
- Meu amor! – exclamou entre soluços. Pensava que
nunca mais te voltaria a ver!
A jovem apaixonada chorou tanto que as lágrimas
inundaram os olhos do príncipe, devolvendo-lhe a visão.
A alegria de ambos foi imensa. O jovem tinha
recuperado ao mesmo tempo a sua visão e a sua querida Rapunzel. Então, sem mais
demoras, partiram velozes para o castelo do príncipe, onde foram recebidos com
todas as honras.
Uns meses mais tarde casaram-se e viveram felizes
durante muitos anos, a salvo da bruxa malvada.