Era
uma vez um rato que todos os dias ia comer a um restaurante. Bom, onde ele
comia era no contentor do lixo do restaurante, o que não é bem a mesma coisa...
Quem
também lá aparecia quase sempre, à cata de acepipes, era um pardal saltitante e
otimista.
Às
vezes, um homem, pobre e velho, também se abastecia no caixote, à procura de
folhas de couve e cascas de fruta, para alimentar dois coelhos de estimação,
que não eram esquisitos de boca.
Assim
que o homem chegava, o pardal voava e o rato fugia, mas não voavam nem fugiam
para muito longe, porque o caixote, ao fim e ao cabo, chegava para todos.
E a
história podia ficar por aqui, se nós não soubéssemos que o restaurante teve de
fechar, por falta de clientes. Não os do contentor, já se vê...
- A
casa vai mudar de ramo - informou o pardal, que sabia sempre as últimas.
- Mudar de ramo"? Então as lojas também voam de árvore em árvore? -
perguntou o rato, que sabia muito pouco.
-
Não me faça rir, senhor rato - e o pardal riu-se. - Mudar de ramo quer dizer
mudar de atividade. Em vez de um restaurante, vão lá pôr uma loja de
ferragens.
-
Talvez também tenha um bom contentor - lembrou o rato.
-
Não me faça rir - e o pardal riu-se. - Na loja de ferragens há martelos,
serras, pregos, parafusos, chaves, fechaduras e... armadilhas para pardais e
ratoeiras para ratos...
-
Que horror! - arrepiou-se o rato. - Assim vamos morrer de fome.
-
Não me faça rir - e o pardal riu-se. - Eu não conto morrer de fome.
-
Então o que é que vai fazer?
-
Também vou mudar de ramo, isto é, vou voar para outra árvore, que fique perto
de outro restaurante. Quem nos pode dar uma ajuda é esse homem que aí vem, à
procura de folhas e de cascas.
- O
quê? Ele tem um restaurante? - estranhou o rato.
-
Não me faça rir - e o pardal riu-se. - O que ele tem é muita prática de
contentores. Se formos atrás dele, havemos de encontrar um que nos agrade.
Assim
fizeram. Um pelo ar e o outro pelo chão, seguiram disfarçadamente o homem. E
muito se admiraram que a cidade fosse tão grande, os contentores tão abundantes
e os restaurantes em tão grande número.
- E
não vão todos, de um dia para o outro, transformar-se em lojas de ferragens? -
perguntava o ingênuo do rato.
-
Não me faça rir - e o pardal riu-se. - Até que o meu amigo se veja obrigado a
comer limalha de ferro e rolos de arame, ainda há-de saborear muita paparoca
gostosa. Não pense em desgraças e aproveite o que há, enquanto há.
Este
pardal era, realmente, um otimista.