Numa
clareira, junto a um campo de trigo, vivia uma família de porcos-espinhos e uma
lebre.
Numa
bela manhã de sol, um porco-espinho saiu para dar um passeio no seu campo de
nabos. A lebre, sua vizinha, teve a mesma ideia e saiu para vigiar o seu campo
de reponhos.
“Bom
dia!”, disse o porco-espinho à lebre.
“Bom
dia, também para ti!”, respondeu-lhe a lebre.
“O
que vais fazer hoje?”
“Quero
dar um passeio”, respondeu-lhe o porco-espinho.
“Um
passeio!?”, repete a lebre com voz de gozo.
“Com
essas pernas curtas e tortas, acho que não vais muito longe!
O
porco-espinho ficou muito ofendido. Não suportava que fizessem pouco dele e
muito menos uma lebre presunçosa!
Decidiu
então vingar-se e lançou-lhe um desafio.
“Vem
comigo ao cimo daquela colina”, propôs à lebre.
“Vamos
ver quem chega primeiro ao vale. Já vais ver para que servem as minhas pernas!”
“Muito
bem!”, respondeu a lebre. “Se queres fazer má figura, está à vontade… mas qual
é o prémio para o primeiro lugar?”
“Uma
moeda de ouro e uma garrafa de brandy”, respondeu o porco-espinho. Combinaram
encontrar-se meia hora depois no alto da colina.
O
porco-espinho tinha um plano, mas precisava da ajuda da sua mulher. “Tenho que
fazer uma corrida com a lebre e tu vais ajudar-me a vencê-la!”
“Mas
como?”, perguntou a mulher preocupada.
“Só
tens de ficar parada na meta e esperar pela lebre. Quando ela chegar, dirás: eu
já cheguei!”
A
lebre apresentou-se no local da partida à hora combinada.
Três,
dois, um, Partida! E a corrida começou.
O
porco-espinho andou alguns metros e depois escondeu-se atrás de um arbusto.
Quando a lebre chegou ao vale encontrou a senhora porco-espinho, que lhe disse:
“Eu já cá estou!”
Na
verdade, o porco-espinho e a sua mulher não eram propriamente iguais. Ela era
muito mais bonitinha. Mas só outro porco-espinho, ou uma lebre muito atenta,
saberia notar a diferença. Mas para aquela lebre presunçosa os porcos-espinhos
eram todos iguais, por isso não percebeu que tinha sido enganada.
A
lebre, no entanto, não conseguia acreditar que o seu vizinho tivesse chegado
primeiro. Por isso, pediu a desforra. E de novo, quando chegou ao vale, ouviu a
senhora porco-espinho gritar: “Já estou aqui!”
A
lebre presunçosa não aceitava a derrota e quis tentar vezes sem conta, perdendo
sempre. Até que, à septuagésima quarta vez, desistiu a meio do percurso.
O
porco-espinho pegou na sua moeda de ouro e na garrafa de brandy e voltou para
casa todo contente com a sua mulher.
“Aquela
lebre insolente”, disse o poco-espinho, “teve a lição que merecia.”
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